Canção da Figueira Maria Clara

quinta-feira, 7 de junho de 2018

 Nota: Deliberadamente continuo s escrever segundo as normas do  ACORDO DE 1945





Buarcos é terra de pescadores
Tem como orago o pescador São Pedro - primeiro Chefe da Igreja Cristã e é assim desde o Século XI com a edificação do Castelo Medieval de Redondos.
Os pescadores de Buarcos foram famosos ao longo dos tempos e notáveis nos bancos dos mares da Terra Nova

Origem do topónimo - Hipóteses:
Bunhos e Arcos - materiais de construção das rústicas habitações (buinhos, espécie de junco)
Bundharque . árabe
Burach - vocábulo celta
Bu-Arcus num documento do século XVII

Provavelmente povoação fundada por pescadores da Galiza, mas tenha a origem que tiver este nome é melodiosos e mostra um ritmo cantante. Faz lembrar o desenrolar das vagas e o rugido das velas que se erguem e enfunam à nortada

Povoação antiquíssima, fez parte do concelho, designado por Buarcos e Redondos, extinto em 12 de Março de 1771 e integrado no município da Figueira da Foz a partir dessa data. Ainda com o estatuto de freguesia, pertencia à Figueira da Foz em 1826 e depois disso, foi anexada a Buarcos

As raízes da Figueira da Foz emergem da povoação de Buarcos



Casario de Buarcos, em anfiteatro pela colina acima até a antiquíssima Vila de Redondos, rebrilha de limpeza e aprumo.
As casas são caiadas a capricho ou revestidas de azulejos todas elas de paredes sem mácula e interiores de limpeza esmerada da mais modesta à mais abastada.
Em Buarcos tudo é lavado, limpo e sádio.
O mar é o seu palco e a Serra da Boa Viagem o pano-de-fundo deste cenário magnífico e maravilhoso.
Não admira que Buarcos se ria para o mar-oceano e para a serra.


Breve Cronologia
1143  -  Torre de Redondos 
1206 - Senhorio de Buarcos é doado ao mosteiro de Santa Cruz, pelo bispo de Coimbra D. Pedro Soares
1342 - 1 de Abril - Doação de Foral a Buarcos, por D Afonso IV.
1411 - a vila de Buarcos é doada por D. João I a seu filho D. Pedro, duque de Coimbra; Séc.15 - D. Pedro seu donatário talvez tenha iniciado obras; 
1450 É concedida Carta de Perdão aos pescadores de Buarcos por terem ido à batalha de Alfarrobeira apoiar o Infante D. Henrique. 
1456 Partem caravelas de Buarcos a caminho de Ceuta. 
1466, 18 de Dezembro - D. Afonso V, doa a terra de Buarcos com jurisdição civil e crime a seu filho, príncipe D. João II, reservando para si a correição e alçados, com direitos, foros, tributos e dízima velha do pescado;
1466 D. João II recebe de seu pai a terra de Buarcos. 
1516 - 15 de Setembro  Foral dado a  Buarcos por D. Manuel I. 
1519. 18 de Outubro - D. Manuel doa a vila de Buarcos ao conde de Tentugal
1522 A costa figueirense e buarquense são assoladas por piratas. São saqueadas casas, pessoas e bens de Igreja. 
1566, Agosto - sofre grande destruição provocada pelo desembarque de ingleses
1585 Nasce a ideia da construção do Forte de Santa Catarina para defesa da barra de Buarcos (Figueira da Foz) 
1595 - doação da vila de Buarcos a D. Nuno Álvares Pereira de Melo, conde de Tentúgal
1602, 25 de Maio - saque da vila pelos ingleses, destruição dos arquivos da câmara, com irreparáveis perdas para a história da vila
A Figueira da Foz e Buarcos são assoladas por piratas. A povoação é saqueada, as igrejas são profanadas e o forte de Santa Catarina é ocupado. 
1629, 2 de Junho - saque de Buarcos pelos holandeses
1640 A aclamação pública de D. João IV de Portugal é feita nas ruas da Figueira da Foz, Buarcos e Tavarede. 
1643 - D. João IV, determina que o rendimento real da água dos luagres de Tavarede, Quiaios, Figueira, Alhadas, Maiorca, Montemor e seu termo, pretendido pela cidade de Coimbra, passe para as obras de fortificação até estas acabarem
1755 O terramoto assola a região. A Igreja Matriz de Buarcos é destruída. 
1834, 8 de Maio - desembarque em Buarcos das tropas constitucionais;
1836 - é extinto o concelho de Buarcos passando para a jurisdição do concelho da Figueira da Foz


PATRIMÓNIO

Capela de Nossa Senhora da Conceição (Buarcos)

Capela Nossa Senhora dos Navegantes ou Nossa Senhora das Ribas (Séc. XVI)
ou
Nossa Senhora da Conceição (nome que adoptou após a Restauração (Séc. XVII))


Localizada junto à muralha defensiva. Séc, XVI. 

Capela de Nossa Senhora da Conceição.  Aguarela de Cunha Rocha, depois do restauro

Capela de Nossa Senhora da Encarnação (Buarcos)


Farol do Cabo Mondego


Fortaleza de Buarcos - Fortaleza de São Pedro de Buarcos



"Fortificação de costa característica, adaptada a artilharia, composta por 3 baluartes unidos por 2 panos de muralha. Está bastante truncada, de que subsistem os baluartes e as poternas, uma delas emtaipada, destacando-se o facto de manter algumas gárgulas de canhão, que talvez resultem das obras seicentistas.
A estrutura primitiva é do reinado de D. João I, mas face à pouca capacidade defensiva, dos ataques de cosários ingleses e flamengos bem como dos piratas do Norte de África, D. Manuel I ordenou a sua reconstrução"
Para saber mais ir por    AQUI
Integrava, juntamente com o Fortim de Palheiros e o Forte de Santa Catarina na Figueira da Foz, o sistema defensivo da enseada da Figueira da Foz e particularmente o antigo porto


Fortim de Palheiros



Também designado de Fortim da Enseada ou Fortim do Centro, fez parte do triângulo defensivo desta enseada, desde a foz do Mondego até Buarcos, cruzando fogo com o Forte de Santa Catarina e a Fortaleza de Buarcos.
A sua estrutura, com uma bateria semi-circular para dez canhoeiras, que ainda mantém, terá sido mandada edificar por D. Miguel durante o período das Lutas Liberais, aproveitando possivelmente um antigo fortim manuelino existente naquele local


Igreja da Misericórdia de Buarcos


Igreja de São Pedro de Buarcos



Igreja de São Pedro 2



Teatro Caras Direitas 

Teatro fundado em 1907

Serra da Boa Viagem

Vista para Norte do Miradouro da Bandeira (altitude de 261,88 m)

Mina do Cabo Mondego


 Esta, foi a primeira mina de carvão de pedra  portuguesa, a lavra organizada iniciou-se a partir de 1773, por ordem do Marquês de Pombal.
A actividade extractiva prolongou-se por mais de 200 anos
O material extraído era de fraca qualidade e de difícil extracção pelo que na segunda década do século XX derivou para a área cimenteira
Um violento incêndio em 1962 levou ao seu encerramento definitivo cinco anos depois.

"Mais de meio século decorrido, período durante o qual prosseguiu a atividade cimenteira, os testemunhos da antiga mina foram sendo esquecidos. Não obstante, ainda subsistem como vestígios, no Cabo Mondego, as instalações de apoio (casa de escolha de carvão e oficinas) e as entradas da galeria do Poço Mondego e da Galeria de Rolagem Nova Mondego – Santa Bárbara. Na  Serra  da Boa Viagem são igualmente visíveis as entradas de alguns poços (Farrobo, Fontainhas, Lodi,  Caldas e Santo Amaro), assim como três chaminés de ventilação, designadamente as da Calha do Meio e dos poços Vieira e Guimarães."


https://www.researchgate.net/publication/286252959_A_mina_de_carvao_do_Cabo_Mondego_200_anos_de_exploracao

PELOURINHOS ou PICOTAS

Do meu conhecimento, Buarcos é a única povoação portuguesa a ter dois pelourinhos no seu território

Pelourinho de Buarcos 1561  (Pelourinho de Baixo)



Pelourinho de Redondos 1561 (Pelourinho de Cima m1561)

Foz do Rio Mondego

Vista aérea da Figueira da Foz
(primeiro plano: Cabedelo; segundo plano: Foz do Mondego, Figueira da Foz e Buarcos; terceiro plano; Serra da Boa Viagem)

Ponte Edgar Cardoso

A Ponte Edgar Cardoso, conhecida como Ponte sobre o Mondego e também como Ponte da Figueira da Foz foi inaugurada no ano de 1982.
A inauguração da ponte Edgar Cardoso foi um dos primeiros actos do programa alusivo às comemorações do centenário da Figueira da Foz, que se realizou às 16 horas do dia 12 de março de 1982, presidido pelo Presidente da República General Ramalho Eanes.
Esta data foi escolhida pela Comissão do Centenário, porque a 12 de Março de 1771, D. José tinha elevado a Figueira da Foz a Vila.


1982 - Ponte Velha e Ponte Edgar Cardoso - Figueira da Foz

Ponte Velha

A ponte Velha de Ferro da Figueira da Foz, projectada e construída pelo Gabinete de Gustavo Eifel, foi inaugurada em 1907, pelo infante D. Manuel, que viria a ser o último Rei de Portugal

Foz do Mondego - Pôr do Sol 


Teatro Trindade 1910



Obra do filantropo de Buarcos, Fernando Augusto Soares, que manda construir este teatro, não como réplica do teatro homónimo de Lisboa, mas como homenagem à sua própria mulher,  D. Maria da Trindade! 

Fortaleza de Buarcos

A fortaleza do século XVI, de facto linha fortificada, protegia a enseada e a população dos ataques do mar, permitindo o desenvolvimento da atividade piscatória, da agricultura e de algum pequeno comércio
Fortificação de costa característica, adaptada a artilharia, composta por 3 baluartes unidos por 2 panos de muralha. Está bastante truncada, de que subsistem os baluartes e as poternas, uma delas entaipada, destacando-se o facto de manter algumas gárgulas de canhão, que talvez resultem das obras seiscentistas.

Descrição
Fortaleza abaluartada de que subsistem dois panos de muralha e três Baluartes irregularmente distribuídos. O baluarte a S. tem a forma de pentágono bem definida, o adjacente apresenta uma forma pentagonal pouco acentuada e o do N. é quadrangular. No baluarte central subsistem ainda uma gárgula de canhão e a base de uma guarita. Os pavimentos dos baluartes N. e S., são em terra batida e encontram-se abaixo do nível da rua 5 de Outubro, enquanto que o do central é lajeado por blocos de pedra e fica acima do nível da rua. As cortinas da muralha, são encimadas por cordão que nos baluartes se encontra sob as canhoneiras. A S., existem ainda duas poternas que apresentam arco de volta perfeita e cobertura em abóbada de berço, a da esquerda encontra-se entaipada por alvenaria de pedra calcária e a da direita continua a dar acesso à povoação, esta no extradorso com moldura em cantaria com aparelho mais cuidado que o da muralha e também moldura composta pelas aduelas do arco, cujo revestimento exterior já desapareceu.

Época Construção
Séc. 16 / 18


Fortaleza / Muralhas de Buarcos (foto da segunda década do Séc. XX)
Esta fotografia é um documento curioso para recordar um facto muito esquecido. A linha férrea ligeira entre o complexo das Minas do Cabo Mondego e a estação dos Caminhos de Ferro da Figueira da Foz

Entre a estação da Figueira da Foz e o Cabo Mondego foi construída uma linha férrea ligeira para Carros Americanos, de tracção animal, para escoar carvão de pedra das Minas do Cabo Mondego para a estação ferroviária da Figueira. 
Tinha início no campo Mineiro do Cabo Mondego, seguia por Tavarede, ia a Buarcos e terminava na estação da Figueira 
Essa linha ferroviária ligeira, além do carvão de pedra também transportava ao longo do percurso  outras mercadorias e passageiros.
Os carris que se vêem na gravura são de 1913.

Baía de Buarcos em meados do século XX
 
Ao fundo as muralhas junto ao mar e em primeiro plano pesca arte chávega. redes e barcos puxados por gado bovino

Muralhas de Buarcos meados do século XX. 
Ao fundo chaminé da fábrica de cimento de Buarcos (Tamargueira

Buarcos, Vista Geral 


Em primeiro plano o que resta da Torre ou Castelo de Redondos seguido de Buarcos e mais ao fundo a Figueira da Foz e praia da Claridade
Destaque para a casa de  tonalidade amarelada com o seu terraço.

Figueira da Foz - Freguesias

Alhadas (NM)
Alqueidão (SM)
Bom Sucesso  (NM)
Buarcos - São Julião  (NM)
Ferreira-a-Nova  (NM)
Lavos  (SM)
Maiorca   (NM)
Marinha das Ondas  (SM)
Moinhos da Gândara  (NM)
Paião  (SM)
Quiaios  (NM)
São Pedro  (SM)
Tavarede  (NM)

Vila Verde (NM)

NM - Norte do Modego - margem direita
SM - Sul do Mondego - margem esquerda



COMUNIDADE PISCATÓRIA






                                            Varina de Buarcos                                              Pescador de Buarcos 

DO DICIONÁRIO

1.  Espécie de rede de arrastar, com saco.
2.  Barco em que os pescadores levam essa rede.
3. Tipo de pesca de arrasto e de cerco em que um barco sai deixando uma rede presa a terra, dando depois uma volta a umas centenas de metros da costa, voltando a um local perto do ponto de partida, para que depois a rede seja puxada por bois ou tractores até à praia e o peixe possa ser recolhido.




A PESCA DO BACALHAU 
mais que um trabalho era um acto heróico

Os  lugres partiam em Abril para as águas gélidas da Gronelândia e Terra Nova e só regressavam a casa em Outubro.
Cada navio levava entre 40 a 60 barquinhos de cerca de 5 metros, os dóris, e  havias dias em que pescavam à linha muito perto de uma tonelada de peixe.
O pescador pescava sozinho e com grandes riscos porque naqueles mares eram frequentes as tempestades, os nevoeiros e até os icebergues. 
Chegavam a afastar-se do navio mãe entre 5 a 10 milhas. Cada pescador levava  linhas de pesca com cerca de uma milha de comprimento com perto  de mil anzóis. um balde de isco e uma bússola. 


A cada duas horas as linhas eram recolhidas (não havia problema com o bacalhau porque este depois de fisgado não dava luta. Os pescadores para comer levavam apenas azeitonas e pão com bacalhau.
Normalmente pescavam quatro horas seguidas.
No fim do dia regressavam ao navio mãe e quando se levantava nevoeiro ou neblina o navio lançava um toque de sirene sinal sonoro para  os pescadores regressarem a bordo.
As tarefas continuavam no navio com o descarregamento, limpeza e o empilhamento dos dóris.
Em Buarcos normalmente o pescador ia 6 meses para o bacalhau e quando regressava a casa nos outros 6 meses ia à  pesca da sardinha.


A etapa final era salgar o bacalhau e armazená-lo  nos porões      Seca do Bacalhau na Gala 

BACALHOEIROS 

Ao fundo “navio mãe” Lugre de três mastros
Em primeiro plano, um dóri carregadinho do “fiel amigo” regressa sozinho da faina que, naqueles mares, cada um só podia contar com ele próprio.

Dóris  -  Pequenos botes da pesca do bacalhau.

Buarcos e Figueira era terra de grandes mestres na arte de pescar desde o bacalhau, à arte xávega, às traineiras. de sardinha.

Artes de pesca: 
                       Arte Xávega, Pesca do Alto, Pesca do Bacalhau




 SECA do

 BACALHAU

 A arte dura de se pescar bacalhau nos bancos da Terra Nova começou nos finais do século XV com a descoberta da “Terra Nova dos Bacalhaos” por João Vaz Corte Real, em 1471/72, patriarca da família de navegadores tavirenses, os Cortes Reais (Gaspar, Miguel e Vasco) que explorando os mares por outras latitudes, com outros ventos e outras correntes procuravam o caminho para a Índia, uns pelos mares do Sul outros pelos mares do Noroeste.
Mas convém não esquecer que os primeiros povos a "ir ao bacalhau" terão sido  os Vikings por volta do século X / XI, mas essa existência ficou no domínio das lendas, até à sua representação cartográfica no Planisfério Português de 1502, conhecido por “Cantino”.
Na viragem do século XV para o XVI, tornámo-nos pioneiros na armação de grandes barcos para a pesca e rumámos aos mares da Terra Nova e  Gronelândia (à época denominada “Terra dos Corte-Reais” e que a Pedra de Dighton bem testemunha) a bordo dos veleiros de três mastros "os  lugres".
A expressão "fiel amigo" data do século XIX.
O auge da nossa frota bacalhoeira estende-se entre os anos 50 e 60 do séc. XX, anos em que chegámos a ser os maiores produtores de bacalhau salgado seco.
Cada safra tinha uma duração de 6 meses. 
Safra dura, não só pela ausência da família mas também pelos inúmeros perigos que os pescadores  enfrentavam naquelas pequenas embarcações -os dóris- na tarefa de pescar o bacalhau à linha para além da dureza em enfrentar  nevoeiros e icebergues a que se juntavam os ventos, a ondulação e os frios para além de se afastarem 1 a 2 milhas do "navio mãe",
Desde sempre os armadores e pescadores figueirenses e buarquenses marcaram presença nos mares da Terra Nova e em terra com estaleiros navais  para construção de lugres: patacho e escuna.
Todos os anos, no início da Primavera, reuniam-se os bacalhoeiros em Lisboa e rumavam aos mares da Terra Nova e Gronelândia, para carregarem os seus porões de bacalhau.
Chegados os grandes veleiros aos bancos, era altura de arriar os DORIS e cada pescador iniciava a sua safra, dia a dia, até os porões ficarem cheios do precioso peixe. 
Era o momento de regresso ao porto de origem e ao aconchego do lar.
Depois era altura de  levar o "Fiel Amigo" à SECA onde depois de lavado, era seco ao sol. 
 
Seca do bacalhau - Gala  -  Margem esquerda da foz do Mondego

Planisfério de Cantino

    A primeira representação cartográfica da Terra Nova, e a prova efectiva de que a sua existência e localização chegou ao conhecimento da Europa, deve-se aos Portugueses.
    Trata-se  do planisfério “Cantino” de 1502, onde a ilha é perfeitamente identificável, apesar de colocada demasiado a leste, com um considerável erro de longitude, para que possa ser reivindicada pelo rei de Portugal, à luz do Tratado de Tordesilhas
    Acompanha-a uma legenda onde se lê: 
“Esta terra he decober per mandado do muy alto exçelentissimo príncipe Rey don manuell Rey de portuguall a qual descobrio Gaspar corte Real [...]” 


Mapa de Fernão Vaz Dourado.  Terra do Labrador e dos Corte-Reais,  1575

 FROTA BACALHOEIRA da FIGUEIRA 


Ao longo dos tempos, muitas centenas de “bacalhoeiros” foram registados  na Figueira da Foz: lugres patochos, iates, lugres escunas, bacalhoeiros a vapor que fizeram as safras na Terra Nova.


NAVIO HOSPITAL GIL EANNES

Navio Hospital Gil-Eannes construído nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo em 1955, para apoio à nossa frota de bacalhoeiros na Terra Nova (*)
Ao longo de sua existência, serviu ainda como navio-capitania, navio-correio, navio-rebocador e quebra-gelos, assegurando o abastecimento de mantimentos, redes, material de pesca, combustível, água e isco aos barcos de pesca do bacalhau.
Fez a sua última viagem à Terra Nova em 1973.

 (*) Navio Gil Eannes (Houve duas embarcações com essa bandeira )
    1º - O primeiro com esse nome chamava-se Lahneck, era navio de guerra alemão (1916) e foi rebaptizado com o nome do navegador natural de Lagos. Deu apoio aos pescadores do bacalhau entre 1927 e 1955.
    2º - O segundo foi o Navio Hospital com a alcunha  "Misericórdia do Mar" lançado à água em 1955. Reabilitado em 1998 é, actualmente,  Museu e Pousada da Juventude (Viana do Castelo)

 

O Navio Hospital -Gil Eannes- na década de 90 passou por inúmeras vicissitudes.
Foi arrestado e abandonado na doca de Alcântara e depois resgatado por um sucateiro. 
Hermano Saraiva ao saber que o navio ia para a sucata lançou um apelo nos seus programas de História  “O Tempo e a Alma” na RT1  e mobilizou vianenses que junto com os diversas entidades criaram a Fundação Gil Eannes.  
Conseguiram comprar o navio e proceder ao seu restauro nos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que o mantem ancorado no Porto de Viana como Museu e Pousada de Juventude.
Hoje é um ícone da cidade e  grande atracção turística.

TRAINEIRAS  -  PESCA da SARDINHA

Traineira Vila de Buarcos

Pequenas embarcações para a pesca da sardinha e carapau  usando grandes redes,  as trainas. (Era assim que se chamavam as grandes redes para o cerco dos cardumes de peixe, sobretudo sardinha.) 
Este tipo de pesca foi introduzido em Portugal na segunda década do século XX (1913) substituindo a pouco e pouco a tradicional arte xávega.. 
Era, e ainda é, um tipo de pesca em que as embarcações saem ao princípio da noite para o mar alto e depois do cerco regresso às primeiras horas da alvorada para o porto de pesca.
O número de pescadores das traineiras variava entre 15 e 38 pescadores.
Actualmente com os aladores mecanizados  as traineiras vão para a faina com 5 / 6 pescadores.
O Mestre de traineira que em cada ano mais pescava, seria portanto o campeão daquele ano, era crismado de “BURRA”

Curiosidade

Na aproximação à barra surgiam grandes bandos de gaivotas esvoaçando à volta da traineira, sinal de boa pesca, pois as preguiçosas esperavam receber o prémio dos peixes atirados ao mar pelos pescadores ao fazerem a limpeza das redes.

“ Tudo o que vem à rede é peixe “
No levantamento das redes de arrasto vinha de tudo: sardinhas, carapaus, cavala, biqueirão, pilados que os pescadores, no caminho de regresso, iam separando.
Esta pesca fazia-se em toda a costa mas sobretudo entre Aveiro e Peniche; Caparica e Setúbal e Sines e na costa Sul entre Lagos e Quarteira e Olhão e Vila Real de Santo António
Entre Dezembro e Abril era o período de defeso.
Junho, Julho e Agosto eram os meses em que sardinha é mais saborosa e gorda.
Actualmente, tendo em conta a preservação da espécie, há quotas de pesca.. Cada traineira só pode ir ao mar 180 dias e não pode pescar aos fins de semana (2 dias). No início, antes da década de 30,  as embarcações eram movidas à vela e à força de remos.
 Na década de trinta aparecem as primeiras traineiras a vapor.


Diziam os velhos da praia:

”A vida do pescador é dura, mas eu gosto e não quero outra vida”

 ARTE XÁVEGA  


DO DICIONÁRIO

1.  Espécie de rede de arrastar, com saco.

2.  Barco em que os pescadores levam essa rede.

3. Tipo de pesca de arrasto e de cerco em que um barco sai deixando uma rede presa a terra, dando depois uma volta a umas centenas de metros da costa, voltando a um local perto do ponto de partida, para depois ser puxada pelos próprios pescadores ou por junta de bois ou, mais recentemente, por tractores até à praia e o peixe possa ser recolhido.


Com a actividade da pesca surgiu a construção naval para suporte das pescas, com a reparação e construção de embarcações. 
Em 1920 contavam-se oito estaleiros navais, duas fábricas de vidro e quatro unidades de conservas de peixe.
A população é ainda fortemente influenciada pela atividade piscatória, embora um número crescente viva também das atividades turísticas, nomeadamente na indústria de alojamento durante a época estival. 
Compõem a freguesia os lugares de Buarcos, Vais e a Povoação da Serra da Boa Viagem.
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Tempos em que a descarga do peixe se fazia directamente na areia

A PRAIA DA SARDINHA  em BUARCOS

Um rodopio de gente e barcos. Era assim a praia da sardinha, mesmo ali em frente ao Costa Azul. 
Chegavam os barcos, o peixe era transportado para terra e as peixeiras distribuíam-no por todo o concelho, muito trabalho e o ganha-pão de muitos.
Os homens regressados da faina, exaustos de uma noite de trabalho, saiam das traineiras, nas bateiras, e, praia acima, espalhavam-se pelas tascas, comiam uma sandes de atum e bebiam uns copos de vinho.
As peixeiras de pés descalços, enchiam as canastras de sardinha e, com xailes negros de lutos permanentes, vergadas pelo peso das canastras, avançavam firmemente por caminhos de fome, pelas povoações desta terra. 
Vidas sofridas, mães heroínas deste povo buarquense.
Muitos ainda se recordarão desta roda-viva de trabalho e sofrimento, ali, junto ao Largo dos Caras Direitas e ao Largo da Má Língua. 
Traineiras, canastras cheias de peixe, xailes negros, vozes roucas gritando, muita gente a comprar e outra tanta a ver. 
Um rodopio assim de gente ...era a praia da sardinha de Buarcos


Varina mulher do meu povo, filha da nossa gente.

ARTE XÁVEGA

PATRIMÓNIO CULTURAL IMATERIAL  desde 2017

Diário da República, 2.ª série, N.º 34, de 16 de fevereiro de 2017 


ARTE XÁVEGA
A Arte do Cerco e do Arrasto  (Séc. XVIII)

Xávega, é arabismo “ Xábaka”,  nome dado ao aparelho de arrasto, que é largado a partir dum barco e depois é trazido para terra, donde o grupo de pescadores, normalmente 15. sendo que normalmente 9 são de mar  e os outros de terra para arranjo de redes   começam a fazer a alagem à força braçal ou por juntas de bois e mais recentemente por tractores.
A Xávega é uma arte de pesca que consiste numa enorme rede  de cerco  que depois é alada  para terra, isto é, uma Arte envolvente arrastante, executada nos litorais arenosos sempre perto da costa. 
Esta Arte já terá sido explorada em quase todo o litoral arenoso português, contudo, hoje, apenas se mantem viva entre Espinho e Sesimbra e em pequenas comunidades piscatórias.

CURIOSIDADE

Ainda me recordo de, na época de Verão, nós próprios e muitos dos banhistas ajudarem a alar as redes e, em troca, levávamos sempre  um pequeno quinhão de peixe. 
Durante anos a rede foi  arrastada para terra por pescadores e juntas de bois;  pelos anos 90 passou a ser puxada por tractores.
Esta arte de pesca está em vias de desaparecer. 
Teve o seu apogeu no século XIX e na primeira metade do século XX
Pesca normalmente feita de Abril a Outubro tornando-se na “época de banhos”  um irresistível atractivo para  banhistas e que a pouco e pouco se vai perdendo.
No início desta arte,  o que o mar dava (o nosso quintal, como diziam os buarquenses) era depois vendido na própria praia ou de porta em porta pelas  peixeiras, mulheres dos próprios pescadores.

BARCO XÁVEGA

    Os barcos usados nesta “arte” são especiais com a sua bela forma em crescente de lua e fundo chato.
    A entrada no mar era sempre um espectáculo fruto da habilidade e força dos pescadores.       Num primeiro tempo para pôr o barco na água,  vencer a força da rebentação, fazerem o cerco ao cardume e trazerem para terra os cabos que depois permitiam alar a rede para terra.
    O próprio barco, barco especial pelo material de construção –era tradicionalmente construído em madeira de pinho, forma em meia lua e fundo chato, com cerca de 11 metros de comprido para uma tripulação que variava ente 7 e 9 pescadores onde o arrais da embarcação comandava todas as operações nomeadamente a distância a que se dá o lance..



    De regresso da faina, as redes eram retiradas do mar para a praia com a ajuda de juntas de bois, bem como de uma multidão de homens e mulheres que sempre colaboram nesta dura tarefa de estender e puxar a rede pelo areal e dela retirar o peixe. 
    O aparelho de pesca é constituído por um saco, prolongado por duas mangas, nos extremos dos quais se amarram os cabos de alagem. Uma das extremidades do aparelho fica em terra, enquanto o resto é colocado a bordo da embarcação que sai para o mar, libertando a rede. 
    Terminada a largada, a outra extremidade é trazida para terra, e puxada pelo tractor.
     

O QUINHÃO ou CALDEIRADA

Do peixe pescado, um terço sai para o dono da rede e embarcação. 
    Os outros dois terços eram para distribuir pelos pescadores, sendo que os ajudantes recebem meio quinhão.

BUARCOS  Arte xávega,  meados do século XX
Barcos e redes puxados para terra por juntas de bois





F Foz - Esplanada António Silva Guimarães - Aguarela de Cunha Rocha, anos 50 Séc. XX
A fundo Buarcos e a Serra da Boa Viagem 
Dois pormenores:
1 -- O mar fica a 2/3 dezenas de metros do paredão 
2 - A Torre do Relógio ainda não estava construída e a Avenida resumia-se a simples caminho